quinta-feira, julho 29, 2021

73 anos a servir a população da Guarda e da Beira Alta: parabéns, Rádio Altitude!

 A mais antiga rádio local em actividade em Portugal está hoje de parabéns! A Rádio Altitude celebra hoje 73 anos de emissões regulares; primeiro ao serviço do sanatório da Guarda e mais tarde a toda a população da Guarda e da região.

Tendo sido das poucas rádios privadas que sobreviveram à onda de nacionalizações do pós-25 de Abril, a Rádio Altitude é hoje a única estação local do continente que sobreviveu à ditadura, ao 25 de Abril, a todas as mudanças políticas e económicas e aos desafios técnicos que ao longo dos anos têm condicionado a actividade radiofónica.

Vale a pena conhecer a história da Rádio Altitude e, sobretudo, ouvir a estação nos 90,9 MHz do FM ou através do site. Parabéns pelas 73 primaveras, Rádio Altitude!

quarta-feira, julho 28, 2021

Rádio "é sistematicamente subestimada no seu papel de segurança nacional"

O título que escolhi para esta publicação cita ipsis verbis as palavras de Manuel Coelho da Silva, presidente do Conselho de Opinião da RTP, ditas há dias no parlamento.

Para melhor contextualizar, vou citar na íntegra o parágrafo:

"A rádio é sistematicamente subestimada no seu papel de segurança nacional, aliás, o Conselho de Opinião tem tomado posição muito clara sobre essas matérias. Chamámos a atenção neste contrato de concessão que havia uma ausência de clarificação sobre o papel da rádio na segurança nacional".

O CO da RTP tem toda a razão! Basta pensar em catástrofes como as inundações recentes na Alemanha e outros países europeus, ou os incêndios em Portugal em 2017, para se reconhecer que, quando a electricidade é cortada, as antenas das redes móveis ficam inoperacionais, a rádio é o meio que chega onde os outros meios não conseguem chegar. O pequeno aparelho a pilhas que temos em casa pode prestar informações cruciais à segurança de pessoas e bens durante ou imediatamente após uma catástrofe. É por esta razão que considero um erro o fim progressivo da Onda Média em Portugal, quando se sabe perfeitamente que o alcance de um emissor de OM é substancialmente superior ao de um emissor FM. Mesmo um emissor OM de 10 kW consegue atingir uma distância superior a 100 km.

Se uma catástrofe natural ou qualquer outro evento inviabilizar a operação dos emissores FM no alto do Trevim (Serra da Lousã) ou na Serra do Montejunto, para dar dois exemplos,  grande parte da região centro (no primeiro caso) ou a região Oeste, o Ribatejo e até algumas zonas do Alentejo ficam sem conseguir escutar em condições razoáveis as rádios nacionais.

No caso de problemas graves no Trevim, apenas a Antena 1 um emissor operacional alternativo para Coimbra (94,9 MHz). Contudo, e graças aos 630 kHz de Montemor-o-Velho, a rádio pública seria a única que conseguiria fazer-se ouvir do Ribatejo até ao Norte. Sem a qualidade de som do FM, quiçá com algum ruído eléctrico, mas entre não ouvir e ouvir na Onda Média, creio que a segunda opção é a melhor - e a mais segura para as populações locais.

Se as torres no Montejunto caíssem na sequência de uma tragédia nacional de dimensões consideráveis, a cobertura na Grande Lisboa, região Oeste e Ribatejo ficava limitada aos emissores de Lisboa, Lousã, uma microcobertura da Antena 1 em Santarém, os emissores da rádio pública na Banática e os emissores da RR e da RFM na Arrábida. Grande parte da população a Norte de Lisboa teria sérias dificuldades para conseguir ouvir de forma satisfatórias as notícias- seja na Antena 1, seja na RR, seja, por hipótese, na RFM. Excepto quem conseguisse ouvir os 630 kHz ou os 666 kHz da Antena 1. Há quem lhe chame velha, há quem lhe chame desactualizada, mas à Onda Média eu chamo redundância.

terça-feira, julho 27, 2021

Rádio Renascença com emissor inactivo há mais de um mês!

relatei a situação no passado mês de Junho, mas a situação persiste. A microcobertura para a cidade de Elvas da Rádio Renascença (102,3 MHz 100W) encontra-se há mais de um mês inoperacional, aparentemente devido a avaria.

Não deixa de ser uma situação lamentável, para não dizer inaceitável para uma estação com a história e a importância da emissora católica portuguesa - tanto mais que o pequeno retransmissor não é supérfluo em determinadas zonas da cidade de Elvas e arredores - e nem os 99,8 (Vila Boim), nem os 95,3 MHz (Serra de São Mamede- Portalegre) fazem milagres. Sim, avarias acontecem, é certo, mas manter um emissor inoperacional durante semanas e semanas (mais de um mês), sem encontrar uma solução técnica que ofereça o mínimo dos mínimos de condições é, no mínimo, uma falta de respeito pelos ouvintes. Espero que ninguém me interprete mal, eu compreendo que os técnicos fazem o que podem para assegurar o funcionamento de dezenas de emissores, mas não creio que seja razoável prolongar esta situação durante demasiado tempo. E se fosse o emissor da Lousã ou da Arrábida, será que já teria havido uma solução técnica (e quiçá financeira, se necessário...) para o problema?

segunda-feira, julho 26, 2021

Rádio Paradiz: muito provavelmente, a primeira rádio pirata em Portugal

Porque a rádio é feita de História e histórias, importa referir uma ou outra praticamente desconhecida mas que merece ser recordada.

Rádios piratas em Portugal. Se a primeira ideia que vem à mente da esmagadora maioria dos leitores deste artigo são as centenas de rádios livres que operavam de Norte a Sul de Portugal nos anos 80, e uma outra no final dos anos 70 (Rádio Imprevisto/Rádio Juventude), a verdade é que a primeira emissão pirata conhecida remonta ao final dos anos 50.

O livro "As rádios locais em Portugal - da génese ao online", da autoria de Luís Bonixe conta a história da Rádio Paradiz.

Ano de 1958. Em Pernes (distrito de Santarém), o jovem aprendiz de electrónica José Paradiz coloca no ar a "Rádio Paradiz". Feita por uma equipa de jovens com menos de 18 anos, a estação transmitiu de 1958 a 1962, altura em que foi encerrada pelas autoridades, o que obrigou a equipa a andar fugida durante uns tempos.

Não se sabe muito mais a respeito da estação, ainda que, contrariamente ao que o livro sugere, eu acredito que não tenha sido a única rádio pirata a funcionar durante o Estado Novo. Claro que à época as coisas tinham de ser feitas no maior sigilo, contudo acredito que possa ter havido pontualmente uma ou outra emissão pirata noutras zonas do país.

Voltando a 1958, e para melhor contextualizar, importa referir que o primeiro transístor, componente electrónico que revolucionou as décadas seguintes, foi apresentado em 1947; a nível nacional, o então Centro Emissor Ultramarino da Emissora Nacional (mais tarde o CEOC (Centro Emissor de Onda Curta), próximo de Canha e Pegões, foi inaugurado em 1954; no mesmo ano, os técnicos do Rádio Clube Português construíram o primeiro emissor de rádio en frequência modulada (FM) em Portugal. Muito provavelmente, o emissor da Rádio Paradiz foi construído com válvulas e outros componentes electrónicos da época; tudo artesanal e sem grandes meios. A estação resumia-se, quase de certeza, a um pequeno emissor de Onda Média, um ou dois microfones e talvez um gira-discos. Se alguém tiver conhecimento de algum pormenor adicional a respeito da Rádio Paradiz ou algum dado a respeito de outra estação pirata praticamente desconhecida, ficaria muito grato se me dessem a conhecer tal informação.

Para terminar, saliente-se que o mesmo José Paradiz foi um dos impulsionadores da Rádio Local de Pernes, criada em 1980. Ironicamente, se Pernes foi uma terra de liberdade radiofónica, a Rádio Pernes foi, infelizmente, vendida há poucos anos a uma seita religiosa que ocupa as duas frequências no concelho de Santarém a prometer milagres... Vale a pena ouvir a edição do dia 13 de Fevereiro de 2020 do "Código Postal" da Rádio Observador.

sexta-feira, julho 23, 2021

Mais DX transatlântico de emissores açorianos!

Se as duas últimas publicações neste blogue podem ter impressionado positivamente alguns leitores, sobretudo os naturais e/ou residentes nos Açores, a temporada de captações de emissores do arquipélago registadas no outro lado do Oceano Atlântico não acabou.

Na passada quarta-feira dia 21, o DXista Bryce Foster conseguiu captar, em Cape Cod (Massachusetts, nos Estados Unidos) os 87,7 MHz da Antena 3 (Pico da Barrosa), os 88,5 MHz da Rádio Atlântida (Ponta Delgada, com emissor no Pico da Barrosa), os 96,7 MHz da Antena 1 Açores (Pico Alto de Santa Maria, na ilha de Santa Maria). 

No mesmo dia, o Dxista Larry Horlick captou em Coley's Point (Terra Nova, Canadá), não só a Antena 3 nos 87,7, como também a Antena 1 Açores nos 90,5 MHz (Serra de Santa Bárbara, ilha Terceira) e nos 88,9 MHz (emissor do Cabeço Gordo, na ilha do Faial).

Em especial para quem se encontra na costa portuguesa e, em particular, nos Açores, quem sabe se não será possível captar no FM e identificar algum emissor de uma qualquer estação americana ou canadiana? Vale a pena ficar atento ao éter!

sábado, julho 10, 2021

Frequência da Antena 3 no Pico da Barrosa (87,7 MHz) captada no Canadá, a cerca de 4530 km!

E o DX transatlântico continua a surpreender! O emissor da Antena 3 no Pico da Barrosa (São Miguel, Açores), que opera nos 87,7 MHz, foi captado em Grimsby, na província de Ontário, no Canadá, na noite do dia 8 de Julho (noite em Portugal, tarde no Canadá) por William Hepburn. A distância estimada é de cerca de 4530 km.

O William Hepburn até publicou no seu blogue um excerto do "Indiegente", comparando o sinal fraco dos 87,7 MHz com o áudio do podcast do programa apresentado pelo Nuno Calado.

Parece que este mês de Julho tem sido uma verdadeira caixa de surpresas agradáveis no que diz respeito à propagação das emissões FM via E Esporádica com um duplo salto na ionosfera. Será que alguém, dentro da RTP, seria capaz de ter a ousadia de enviar, por sua iniciativa, um QSL ao William Hepburn a confirmar a proeza?

quinta-feira, julho 08, 2021

Mais DX transatlântico de uma rádio portuguesa: Antena 1 (87,9 MHz Lousã) ouvida na Terra Nova (Canadá)!

Depois da captação de emissores açorianos da Antena 2 e Antena 3 no leste dos Estados Unidos, o mês de Julho trouxe outra surpresa: o emissor da Antena 1 na Serra da Lousã (87,9 MHz) foi captado ontem, dia 7 de Julho de 2021, na Terra Nova (Canadá) por Larry Horlick, a cerca de 3657 km do Trevim. O Larry também captou algumas rádios espanholas a mais de 3700 km.

Ao que parece, uma "E esporádica" com dois saltos na ionosfera, explica esta proeza. De referir que as rádios do país vizinho captadas na ilha canadiana foram a "Los 40 Classic", emissor de Segóvia (89,9 MHz), a 3916 km; a "Cadena 100" de Salamanca (90,0 MHz, a 3799 km); a RNE Radio Clásica, emissor de Valladolid/Cerro de San Cristóbal (93,1 MHz, a 3838 km) e o emissor de León/Las Lomas da "Los 40" (88,2 MHz, a 3728 km).

As ondas de rádio não conhecem fronteiras, não conhecem países, não conhecem continentes. Quando as condições o propiciam, é possível estarmos a ouvir o sinal de um emissor sitiado a milhares de quilómetros do local onde nos encontramos.  É isto que torna o DX um passatempo interessante.

terça-feira, julho 06, 2021

A Rádio Sim "morreu"

O derradeiro sobrevivente da rede de emissores da Rádio Sim deixou de emitir a estação sénior do Grupo Renascença. Com efeito, os 97,5 MHz Portel (distrito de Évora) sofreram uma mudança drástica na playlist, ganharam uma sonoplastia nova e, ponto positivo, agora têm noticiários de âmbito regional com a duração de 15 minutos.

A estação identificá-las agora como a "97.5", à espera de adoptar a designação oficialmente aprovada "Rádio Esperança". Do pouco que tenho ouvido, a estação limita-se, por enquanto, a passar música e a transmitir um ou outro programa religioso.

quinta-feira, julho 01, 2021

Histórico! Emissores da Antena 3 no Pico da Barrosa (87,7 MHz) e da Antena 2 na Serra de Santa Bárbara (98,9 MHz) captados no leste dos Estados Unidos!

Quem disse que uma emissão FM não pode chegar longe? Com as condições de propagação certas e a ionosfera a ajudar, um emissor pode ser ouvido a milhares de quilómetros.

Depois de alguns emissores espanhóis captados na América do Norte há alguns dias, o dia de hoje trouxe uma surpresa inédita para a rádio portuguesa: durante alguns minutos, o DXista [entusiasta pela captação de emissões de rádio a grandes distâncias] americano Bryce Foster, residente em Mashpee, uma cidade do estado de Massachusetts, captou hoje, nos 87,7 MHz, o emissor do Pico da Barrosa (São Miguel, Açores) da Antena 3. Uma distância estimada em, mais coisa, menos coisa, 3780 km. Em conversa no "Twitter",  eu confirmei-lhe que também captou a Antena 2 a partir do emissor de Santa Bárbara (98,9 MHz).

Segundo o Bryce, ele também terá captado emissões nos 88,5, 89,6, 90,5 e nos 97,0 MHz. Infelizmente, não existindo qualquer gravação destas últimas, não é possível tentar qualquer identificação. Contudo, quero acreditar que se tenha tratado dos emissores de Santa Bárbara (90,5) e do Pico do Jardim (Graciosa, nos 97,0 MHz) da Antena 1 Açores.

O segredo para tais feitos? "E Esporádica". Um fenómeno de propagação das ondas VHF que permite às emissões FM das rádios, sobretudo as que operam nas frequências mais baixas da faixa 87,5-108 MHz e quando a ionosfera o permite, serem reflectidas de volta para a Terra, fazendo-se ouvir a milhares de quilómetros de distância. As esporádicas ocorrem sobretudo na Primavera e no Verão, pelo que tem sido o tempo de conseguir algumas captações insólitas.