quarta-feira, julho 28, 2021

Rádio "é sistematicamente subestimada no seu papel de segurança nacional"

O título que escolhi para esta publicação cita ipsis verbis as palavras de Manuel Coelho da Silva, presidente do Conselho de Opinião da RTP, ditas há dias no parlamento.

Para melhor contextualizar, vou citar na íntegra o parágrafo:

"A rádio é sistematicamente subestimada no seu papel de segurança nacional, aliás, o Conselho de Opinião tem tomado posição muito clara sobre essas matérias. Chamámos a atenção neste contrato de concessão que havia uma ausência de clarificação sobre o papel da rádio na segurança nacional".

O CO da RTP tem toda a razão! Basta pensar em catástrofes como as inundações recentes na Alemanha e outros países europeus, ou os incêndios em Portugal em 2017, para se reconhecer que, quando a electricidade é cortada, as antenas das redes móveis ficam inoperacionais, a rádio é o meio que chega onde os outros meios não conseguem chegar. O pequeno aparelho a pilhas que temos em casa pode prestar informações cruciais à segurança de pessoas e bens durante ou imediatamente após uma catástrofe. É por esta razão que considero um erro o fim progressivo da Onda Média em Portugal, quando se sabe perfeitamente que o alcance de um emissor de OM é substancialmente superior ao de um emissor FM. Mesmo um emissor OM de 10 kW consegue atingir uma distância superior a 100 km.

Se uma catástrofe natural ou qualquer outro evento inviabilizar a operação dos emissores FM no alto do Trevim (Serra da Lousã) ou na Serra do Montejunto, para dar dois exemplos,  grande parte da região centro (no primeiro caso) ou a região Oeste, o Ribatejo e até algumas zonas do Alentejo ficam sem conseguir escutar em condições razoáveis as rádios nacionais.

No caso de problemas graves no Trevim, apenas a Antena 1 um emissor operacional alternativo para Coimbra (94,9 MHz). Contudo, e graças aos 630 kHz de Montemor-o-Velho, a rádio pública seria a única que conseguiria fazer-se ouvir do Ribatejo até ao Norte. Sem a qualidade de som do FM, quiçá com algum ruído eléctrico, mas entre não ouvir e ouvir na Onda Média, creio que a segunda opção é a melhor - e a mais segura para as populações locais.

Se as torres no Montejunto caíssem na sequência de uma tragédia nacional de dimensões consideráveis, a cobertura na Grande Lisboa, região Oeste e Ribatejo ficava limitada aos emissores de Lisboa, Lousã, uma microcobertura da Antena 1 em Santarém, os emissores da rádio pública na Banática e os emissores da RR e da RFM na Arrábida. Grande parte da população a Norte de Lisboa teria sérias dificuldades para conseguir ouvir de forma satisfatórias as notícias- seja na Antena 1, seja na RR, seja, por hipótese, na RFM. Excepto quem conseguisse ouvir os 630 kHz ou os 666 kHz da Antena 1. Há quem lhe chame velha, há quem lhe chame desactualizada, mas à Onda Média eu chamo redundância.

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