Hoje é o Dia Mundial da Rádio, celebrado neste ano de 2021 em circunstâncias extraordinariamente difíceis para todos. Ainda assim, mesmo num contexto inédito em mais de 100 anos como uma pandemia, a rádio não pára.
Em tempos atípicos, em que grande parte do mundo se enclausura num universo circundado por paredes, a rádio permite "ver ouvindo" além do que conseguimos ver através da janela. Em vários países, onde as crianças e os jovens não podem ir à escola mercê da situação epidemiológica, a rádio tem estado, no último ano, a ser a radioescola que chega inclusivamente a quem não têm acesso a outros meios de comunicação, nomeadamente a Internet.
Com efeito, a rádio é um ser polivalente, capaz de se adaptar a novos desafios. Ao contrário da televisão ou de serviços online como o YouTube, na rádio não é necessária a preocupação com a estética visual. Não são necessárias equipas de maquilhagem, cabeleireiros ou técnicos a verificar as luzes. Tudo se concentra num único sentido: a audição.
Esta simplicidade é, muito provavelmente, a principal razão pela qual a rádio sobreviveu à televisão e transformou a ameaça da Internet num aliado; também a concentração de toda a informação sob a forma de som permite à rádio ser escutada mesmo quando os olhos dos ouvintes focam a estrada, o trabalho, os livros de estudo, a receita culinária ou o jogging matinal. Tal versatilidade não existe nos meios onde a imagem visual é fundamental, onde muitas vezes se preocupa demasiado com a aparência física em detrimento do conteúdo da mensagem a transmitir a quem estiver a escutar. Na rádio, o que efectivamente marca a diferença é o conteúdo da mensagem e as qualidades de eloquência de quem articula as palavras em frente ao microfone.
Se tivesse de descrever o maior feito que a rádio fez neste mundo, diria que foi o de revolucionar por completo o conceito de tempo. Ainda que no início do século XX já houvesse telefone, as notícias, os resultados desportivos e a cultura viajavam à velocidade da diligência, do automóvel ou do comboio. Com a chegada da rádio, o desporto, a informação, a cultura e o entretenimento passaram a chegar em tempo real. Muito antes da televisão ou das redes sociais, a rádio mudou por completo o paradigma cultural e social da sociedade.
Muito haveria a acrescentar relativamente à importância da rádio, todavia importa pensar o futuro do meio. Na era do consumo imediato e fútil das redes sociais e do streaming de música, a rádio tem de enfrentar o desafio de se reinventar. Mesmo numa altura de crise sanitária e económica, as rádios terão de saber utilizar da melhor forma possível os recursos de que dispõem. Em 2021 já é caricato haver programas com participantes que intervêm a partir de casa através de reuniões de áudio em plataformas como o Zoom ou Teams em que se nota claramente o som execrável e carregado de artifícios porque o utilizador não soube (nem lhe foram capazes de lhe ensinar a) configurar o software no modo de melhor qualidade de som possível. Em 2021 e com o devido respeito pelo trabalho dos profissionais, já se torna fastidioso escutar certos papagaios adestrados (felizmente há bons radialistas que não o são) que se limitam a palrar, perdão, a anunciar a hora, o estado do tempo e que a seguir vai-se ouvir um tema do artista "X", sem que tais duas ou três frases curtas soem idênticas a outras milhares e despertem o mínimo interesse no espírito do ouvinte. Em 2021, com tantas funcionalidades oferecidas pelos softwares de automação, não deixa de ser lamentável que certas rádios só conheçam 20 ou 30 músicas, repetidas até à exaustão hora após hora. Ao contrário do que possa parecer, não é preciso investir rios de dinheiro para transformar um produto insosso numa rádio minimamente interessante para a audiência habitual e para os novos ouvintes que começam a gostar do que ouvem; basta ter alguma criatividade e espírito de iniciativa para se fazer o que se pode com a prata da casa. Na era do podcasting, há quem use um microfone decente e um computador para produzir a partir de casa conteúdos interessantes. Se um podcaster amador consegue, um profissional de rádio, com a experiência e o conhecimento técnico acumulado durante anos saberá fazer melhor. A rádio não deve ser só música, política e futebol. Há muitos mais assuntos que podem e devem ser devidamente explorados num programa de rádio. Com os meios técnicos existentes e o saber-fazer, existirá, decerto, a capacidade de se criarem conteúdos para rádio que atraiam novos ouvintes.
Para terminar, vale a pena aproveitar o Dia Mundial da Rádio para visitar de forma virtual e sem sair de casa os estúdios das rádios do grupo Renascença. Por via hertziana ou online, analógica ou digital, feita num estúdio, em casa, num navio ou, quando está bom tempo, até na rua, a rádio existe enquanto houver ouvintes que queiram saber o que ela lhes diz através do altifalante. Viva a rádio!
1 comentário:
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