"Democracia" Chinesa...
Que a radiodifusão é um meio universal de comunicação que teoricamente deveria ser acessível a todos, bastando um receptor para receber a emissão, é a opinião maioritária dos ouvintes e dos profissionais do sector...
Todavia, ao longo da História da radiodifusão, no século XX e princípios do corrente século XXI, a escuta de rádio foi sempre afectada, não só pelas contingências acidentais, da propagação do sinal, do planeamento das emissões por parte das entidades competentes e de outras questóes técnicas... mas também pelas atitudes baseadas em questões políticas, filosóficas e ideológicas de alguns países.
Ao longo das décadas, a forma mais eficaz de dificultar ou mesmo impedir que determinadas emissoras cheguem a determinados países foi e é através do chamado espastelamento (jamming) : utilizar emissores para transmitir deliberadamente nas mesmas frequências que as das emissoras visadas, dificultando imenso, muitas vezes até impedindo, a sua recepção. Tais emissões utilizam efeitos sonoros escolhidos propositadamente para afectar a integibilidade das emissoras "politicamente incorrectas".
Actualmente, entre os países que aplicam o empastelamento, encontram-se Cuba, o Irão, a Coreia do Norte... e a China.
A par dos efeitos sonoros desagradáveis que afectam a audição das emissões censuradas, curiosamente, há países que preferem recorrer a conteúdos mais agradáveis ao ouvido... como o caso da China, bem conhecida pelas suas emissões contínuas de peças de ópera chinesa, num conceito internacional conhecido por "Firedrake Jamming"... As emissões de ópera são transmitidas nas principais faixas de Onda Curta, em inúmeras frequências, visando emissoras como a Rádio Ásia Livre (Radio Free Asia), Voz da América (Voice Of America), o serviço mundial da BBC (BBC World Service), entre outras emissoras internacionais. Bastará recorrer a um receptor de Onda Curta para verificar que, mesmo longe da China, as estações de empastelamento são captáveis nalgumas frequências.
A China conseguiu, aliás, "copiar" emissores adquiridos a certo fabricante com o objectivo de transmitir os inúmeros programas, incluindo na Língua Portuguesa, da Rádio Internacional da China... mas também empastelar o que não convém "entrar" em solo chinês.
Alguns entusiastas das comunicações via satélite conseguiram até descobrir o "feed" que alimenta os emissores de Onda Curta, difundindo continuamente uma hora de ópera, interferindo em conteúdos politicamente sensíveis para Pequim...
Como se não bastasse os empastelamentos, a China "democratiza" o acesso à informação recorrendo à conhecida censura na Internet, mas também aplicando todo o tipo de medidas para restringir o acesso a informações vindas do exterior. Recentemente, os ouvintes e telespectadores do Tibete foram obrigados a trocar os seus equipamentos de recepção satélite... por equipamentos que não possam receber a RFA ou a VoA... além de as as autoridades cortarem a internet na problemática região tibetana.
Entretanto, o aniversário do massacre de Tian'anmen será scertamente um pretexto para que, nos próximos meses, a China reforce os equipamentos e métodos de empastelamento, censura e manipulação de informação, mostrando a mundo a "abertura" que a China oferece em relação ao "mundo exterior" (ironia). Nem os Jogos Olímpicos do ano passado (2008) contribuíram para alguma abertura por parte de Pequim para as questões relacionadas com os Direitos Humanos e a liberdade de informação e expressão.
Os ouvintes chineses têm praticamente toda as faixas de Onda Curta ocupadas ou por estações nacionais, ou pelas emissões da RIC, ou pelas estações de empastelamento...
Tudo em nome de um comunismo (des)respeitador da liberdade de expressão e de informação...e dos Direitos Humanos em geral.
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