Trata-se, evidentemente, de uma notícia preocupante e triste, mas que reflecte os constrangimentos pecuniários que afectam as rádios locais há muitos anos.
Eu compreendo que existam rádios locais bem geridas e que cumprem o seu papel a denunciar as dificuldades económicas. E, certamente, ainda haverá umas tantas. Todavia, e por mais desagradável que seja de ouvir, também existem rádios transformadas em pouco mais do que música atrás de música, seleccionada por um software de automação, um jornalista a ler as notícias e talvez até um programa religioso pago por uma instituição religiosa (nomeadamente na área do evangelismo) para equilibrar as contas. Por outro lado, há muitas rádios locais que foram despromovidas a meros retransmissores de estações de rádio com estúdios em Lisboa e que já nem disfarçam na hora de apresentar as notícias do concelho para o qual o alvará da rádio local foi atribuído, colocando um jornalista em Lisboa a relatar, em poucos minutos e a dezenas ou até a centenas de quilómetros da "terra", os últimos desenvolvimentos da política, da sociedade e eventualmente uma referência ao desporto regional.
Talvez a melhor solução para os problemas das rádios em Portugal passasse, houvesse vontade política, pela criação de rádios distritais que cobrissem todo o distrito e que acompanhassem a actualidade numa perspectiva regional. Também o estabelecimento de cadeias de rádios, que fossem autorizadas a emitir 24 horas por dia a mesma programação regional em todas as frequências, na condição de prestarem um verdadeiro serviço público de informação na região onde se inserem, fosse uma boa ideia. Porque, mais do que cadeias de rádios a tocarem playlists repetitivas ou a passarem propaganda religiosa, Portugal precisa de rádios locais que se unam no sentido de servir realmente as populações. Se não há condições para termos uma rádios local em cada concelho a querer concorrer com a rádio do concelho vizinho, que haja coragem política e empresarial para facilitar a criação de rádios regionais. Também ajudava uma alteração legislativa que autorizasse a criação de rádios comunitárias sujeitas a um regime fiscal, de pagamento de direitos de autor e direitos conexos, substancialmente mais favorável do que o aplicado aos grandes operadores radiofónicos. Mais do que "migalhas" dos 15 milhões de euros em publicidade comprados pelo Estado, as rádios precisam que o Estado lhes facilite a vida, reduzindo a burocracia e as exigências fiscais, enquanto facilita a reinvenção necessária à sobrevivência das estações e a sua adaptação a uma nova realidade decorrente das mudanças no mundo provocadas pela pandemia.
1 comentário:
As rádios locais e até mesmo regionais praticamente desapareceram.
Têm sido engolidas pelas nacionais, o auge da Internet e sobretudo pelas dificuldades económicas.
Noutros tempos, eram uma referência dos domingos à tarde com o relato dos jogos das equipas locais. Hoje já quase nenhuma o faz.
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